
Para falar de TBP, primeiro, precisamos entender o que são transtornos de personalidade. São um grupo de condições psiquiátricas relacionadas ao desenvolvimento. Eles englobam indivíduos que, desde a infância ou a adolescência, apresentam importantes dificuldades nos relacionamentos interpessoais em razão de alterações na cognição, na afetividade e no controle dos impulsos.
Os transtornos de personalidade são fonte de grande sofrimento e de dificuldades de adaptação para seus portadores e familiares. Sua presença está associada a maior risco de incapacidade para o trabalho, deficiência de suporte social, dificuldades de relacionamento e maiores tentativas de suicídio. Além disso há, com frequência, certa estigmatização da pessoa com transtorno de personalidade (mesmo que os colegas ou familiares não saibam que ele exista), causando grande angústia.
As personalidades são consideradas psicopáticas quando “sofrem ou fazem sofrer”.
O que é?
Também conhecido como “transtorno de personalidade emocionalmente instável”, o transtorno borderline de personalidade é caracterizado por instabilidade afetiva, impulsividade, relacionamentos pessoais instáveis e um prejuízo cognitivo relacionado com o estresse.
Assim, pessoas com transtorno borderline de personalidade costumam ser muito instáveis e impulsivas. Elas sentem um grande vazio interno e não costumam ter uma boa imagem de si mesmas.
Pacientes com TBP são frequentemente encontrados em vários contextos clínicos, incluindo departamentos de emergência, após tentativas de automutilação, tentativas de suicídio, ou quando estão vivenciando uma crise interpessoal. Isso nos leva a pensar que, na grande maioria das vezes, o paciente não busca ajuda por conta de sua condição que chamamos de base, mas sim por consequências dela.
Como é o quadro clínico?
O quadro clínico, ou seja, as manifestações da doença, podem mudar de uma pessoa para outra. No geral, os sintomas mais comuns do transtorno borderline de personalidade estão listados a seguir.
Sintomas afetivos:
- Instabilidade afetiva devido a uma reatividade do humor: as flutuações de humor duram de minutos a alguns dias; geralmente, mudam entre tristeza, raiva, ansiedade, entre outros.
- Raiva inapropriada, intensa ou dificuldade para controlar a raiva: esse é um dos maiores problemas sociais da pessoa com TBP, pois geralmente a raiva prejudica os seus relacionamentos.
- Sentimento crônico de vazio: a pessoa pode se sentir sozinha, sem esperança, sem valor. Isso prejudica muito a sua autoestima.
Sintomas impulsivos:
- Comportamento suicida ou ameaças de suicídio; automutilação: esses comportamentos podem ser o maior alerta para procurar ajuda. Muitas pessoas se cortam, mas também podem se arranhar, se queimar ou bater neles mesmos. O suicídio pode ser visto como “a única saída” ou uma forma idealizada de acabar com o sofrimento.
- Impulsividade em áreas potencialmente auto prejudiciais: os mais comuns são abuso de substâncias (como álcool e drogas), compulsão alimentar, promiscuidade, compras excessivas e vício em jogos de azar.
Sintomas interpessoais:
- Um padrão de relacionamentos interpessoais intensos e instáveis, caracterizados por alternação entre extremos de idealização e desvalorização: isso, em outras palavras, quer dizer que a pessoa com TBP costuma ter instabilidade em seus relacionamentos. Um dia, diz que ama a pessoa. No outro, a desvaloriza ou se sente desvalorizada por ela.
- Tentativas de evitar abandono, a todos os custos: ao longo do tempo, muitos pacientes escolhem evitar relações próximas, para prevenir qualquer chance de abandono.
- Perturbação de identidade: a autoimagem da pessoa com TBP pode ser instável. Por exemplo, ela pode mudar constantemente de aparência, emprego, profissão, crenças, entre outros.
Sintomas cognitivos:
- Ideação paranoica transitória relacionada ao estresse ou sintomas dissociativos graves: isso quer dizer que muitas vezes podem ocorrer alucinações ou delírios parecidos com os da esquizofrenia. São diferentes destes por serem transitórios e durarem algumas horas. Paranoia, particularmente um sentimento de estar sendo observado e julgado pelos outros é uma experiência muito comum em TBP.
Sintomas dissociativos:
- Despersonalização: experiência de estar desconectado de você mesmo ou de ver você mesmo de fora do seu corpo.
- “Desrealização”: sentimento de que o mundo exterior não é real e pode ser um sonho.
O que fazer?
Pode não ser fácil identificar o transtorno. Principalmente porque, grande parte das vezes, ele está associado a outras doenças psiquiátricas, como por exemplo a depressão. Alguns dos indícios são os seguintes:
- Impulsividade: fazer as coisas no calor do momento
- Ter dificuldade em controlar suas emoções
- Sentir-se mal sobre si mesmo
- Machucar a si mesmo
- Sentir-se vazio
- Fazer amizades rapidamente, mas perdê-las facilmente
- Sentir-se paranoico ou deprimido
- Quando está estressado pode ouvir barulhos ou vozes
É importante ressaltar que o papel do psiquiatra é essencial, pois ele saberá dar o diagnóstico definitivo e ajudar a direcionar os próximos passos.
Com ajuda, muitas pessoas com TBP podem começar a viver uma vida mais tranquila. A maioria consegue, pelo menos, lidar melhor com as suas dificuldades. O tratamento costuma ser a associação entre terapia psicológica e/ou medicamentosa.
As duas psicoterapias mais efetivas são:
- Psicoterapia de Mentalização: o objetivo dessa terapia é estabilizar a expressão das emoções de forma acolhedora, investigando as experiências do paciente. Em seguida, os sentimentos que emergem no relacionamento com outras pessoas e na relação terapêutica são explorados.
- Psicoterapia focada na transferência: essa terapia é pautada na releitura dos relacionamentos interpessoais, tendo a relação terapêutica como apoio e ponto de partida.
A família e os amigos também exercem papel muito importante no tratamento, na formação de uma rede de apoio. Podem começar, por exemplo, dando à pessoa seu próprio espaço, escutando-a, reconhecendo as preocupações do paciente, de forma empática e com compaixão.
Referências:
- Compêndio de Clínica Psiquiátrica – capítulo 29
- https://www.clinicalkey.com/#!/content/medical_topic/21-s2.0-2001195?scrollTo=%23heading27
- www.rcpsych.ac.uk/info
Consultora em Sexualidade na Saúde e Educação